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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O MUNDO É GAY

Há algum tempo que eu estou tentando escrever sobre isso, mas vida de professor é uma loucura, sempre aborta todo prazer que a gente tem, toda nossa energia vai para o aluno. Essa eterna entrega, mas isso é assunto pra outra postagem.
Na verdade, hoje eu estou aqui pra comentar um pouco sobre o tema acima. Você ficou assustado, né? O último artigo eu falei da amiga taradinha e agora venho com essa conversa doida que o mundo é gay? Sei que o tema é polêmico e vai gerar um curto em alguns. Mas eu constatei que isso é uma grande verdade.
Quando eu era mais nova, lá pela década de 90, não havia tanta conversa e de certa maneira uma aceitação aos gays, ou qualquer nomenclatura que vocês queiram usar, se possível politicamente correta. Todo mundo, pelo menos onde eu morava(Cidade Baixa), omitia esse assunto, lá em casa, como já disse em outra postagem, nós respirávamos a espiritualidade, éramos evangélicos, daqueles bem comprometidos, não fanáticos, mas plenamente convencidos de estar na religião certa. Minha mãe nem queria ouvir falar de homossexual e meu pai que parecia moderninho, prometeu que jogaria um balde d´água se me visse conversando com algum. Na época, eu tinha um colega muito legal, que como costumávamos dizer, sempre foi gay, gostava do papo com ele, mesmo não sendo correto associações desse tipo, quando se é cristão. Sempre que havia uma brechinha eu conversava com ele, nunca vou esquecer que me pediu emprestado o livro Hospício é Deus, de Laura Lopes Cansado, e nunca me devolveu, nem devolverá, já que morreu precocemente na Argentina.
Os outros gays que passaram pela minha infância e adolescência estavam sempre escondidos, engavetados, dentro do armário, impedidos de sair pela intolerância da minha geração, ou quem sabe, pelo meu círculo de amigos certinhos ou aparentemente certinhos, já que com o tempo todos ou quase todos se desviaram do caminho do Senhor. Saíram porque não aguentaram a ideia de serem fiéis, namorarem apenas os meninos(as) da lei ou por decidirem seguir seu próprio caminho sem as amarras necessárias da religião.
Durante 2000, os gays passaram a ser bastante visíveis para mim, mas ainda mantinha com eles um certo distanciamento, uma desconfiança, até um certo medo do que as pessoas iriam dizer se eu andasse com eles, incentivada até pelas crenças e pelo testemunho preconceituoso de alguns.
13 anos depois, eu vejo que é impossível ficar indiferente a eles, são visíveis e estão aí, saindo do armário e mostrando que precisam ser respeitados. Eu os entendo, não sei se a ponto de adotar uma posição semelhante, porque sinto que não é a minha, mas me solidarizo com eles, por perceber que por mais aberto que o mundo esteja ás diferenças, ainda percebemos piadas, observações e olhares que os depreciam.
Sempre que faço debates em sala, percebo que a maioria se posiciona de  maneira solidária com a causa, mas só até o ponto que não toca no lado pessoal. É sempre, "comigo não', "eu não quero", 'não concordo', mas quando é com os outros, todo mundo é bem parceiro.
Quando digo que o mundo é gay, quero dizer que a gente sempre tem um amigo, um colega de trabalho, um parente que é gay e não dá pra falar mal, porque está envolvido o lado emocional, o eu da pessoa, um eu que a gente conhece bem. A partir daí, tudo muda, nossas opiniões ficam mais flexíveis, mais generosas e a empatia cresce.Eu acho que a gente sempre os vê pelo quadrado, e o quadrado só interessa a eles mesmos e a ninguém mais. Portanto, vamos deixar a vida dos outros pra lá, e vamos atrás da nossa própria que já é trabalhosa demais.

FAÇO ISSO PORQUE PRECISO FICAR VIVA

Sempre ouvimos, sentimos, vemos coisas que nos motivam a continuar vivendo, mas algumas são fundamentais para dar sentido a nossa vida.
Viajando em férias, revi uma velha amiga que só vejo anualmente. Trocamos lembranças, revivemos o passado e fortalecemos mais ainda nossos vínculos de amizade e parentesco. Entre as várias conversas que tivemos nesses dias que ficamos juntas, compartilhei um pouco da sua vida e ela me fez algumas confidências inconfessáveis pra vocês.
No meio de um pilequinho e outro e no fim de uma festa, ela me disse que fazia determinadas coisas que estavam fora dos padrões rígidos da nossa sociedade, porque assim se sentia viva, porque precisava.
Aquela frase me tocou profundamente. Era exatamente o que em alguns momentos eu sentia, tinha uma nítida impresão de que apenas cumpria ordens, vivia como uma autômata e tinha certeza de que não era livre.
Apesar de não ter coragem de fazer as loucuras que ela faz, eu a entendia.Viver, mas viver mesmo, é correr riscos, aventurar-se no desconhecido, descumprir os comandos, desconstruir as metas que nós traçamos(ou traçaram pra gente). Viver sem medo do amanhã, sem acordos com a sociedade, mas também é sofrer, chorar, cair das nuvens com as decepções, com os enganos, com os erros.
Acho que como todo mundo(ou é só comigo que tenho a síndrome de Peter Pan), fico me perguntando se é melhor ficar naquele caminho seguro, reto que foi traçado pelo acaso, pelo destino, ou é melhor virar à direita e mergulhar no desconhecido? Quem será que nunca teve vontade de encontrar um outro caminho, sem olhar pra trás, sem se incomodar com a opinião dos outros?Ah, a opinião dos outros!como isso pesa na nossa cabeça, ninguém é responsável pelos erros que cometemos, nem vai responder por eles, mas tem o poder quase que absoluto de mandar no nosso volante e dirigir a nossa vida.
Acho que só tem uma coisa capaz de fazer a gente abrir mão do nosso mundo, esquecer tudo e tomar um rumo completamente diferente: estar apaixonado. Pode parecer piegas falar assim, mas quem já se apaixonou alguma vez na vida sabe que só uma grande paixão é capaz de cegar a gente, mudar o nosso destino, mergulhar no abismo profundo, se perder por vontade própria. Pra quem não tem paixão, então pode mergulhar, se tiver coragem.