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segunda-feira, 28 de março de 2011

QUANDO O HOMEM DA SUA VIDA É O SEU ALGOZ



Como se não bastasse as dificuldades que as mulheres enfrentam, como obter sucesso profissional, aprender e gerir um lar, conviver com uma TPM mensal e ainda encontrar um tempinho livre para cuidar delas mesmas, muitas precisam(precisam?) viver com um namorado ou marido que é um agressor.
É, dessa vez o assunto é muito sério, e como mulher não dava pra fingir que nada está acontecendo. Depois de ler e ouvir, pelos menos, 5 notícias de histórias sobre violência contra a mulher, que culminaram com a morte das mesmas, eu decidi escrever algo sobre o assunto. Eu sei que meu público é juvenil, mas a violência faz parte do nosso cotidiano. Talvez não seja um parente nosso, mas pode ser uma amiga, uma vizinha e em alguns casos é alguém que vive conosco diariamente e nem notamos ou fingimos não perceber a gravidade do problema.
Quando a gente observa relatos de violência contra a mulher, com final trágico, nos desapercebemos das milhares de mulheres que são infringidas por um tipo de violência, mais comum e mais aterradora, que é a violência psicológica - aquela que acontece no aconchego do lar, lá mesmo, onde mora o seu algoz. Quantas mulheres são oprimidas, humilhadas, ameaçadas e agredidas pela pessoa que em tese deveria amá-la, protegê-la e cuidar dela?A violência doméstica é crueldade no mais alto nível, visto que se dá através de pequenas atitudes rotineiras e silenciosas. O opressor é alguém em que confiamos, amamos, trocamos carinho. Essa violência, muitas vezes, se dá através de frases aparentemente inocentes, mas com um efeito devastador sobre a autoestima da vítima, “ você tá caidinha”,  “que barriguinha é essa?”, “ você é frígida”, “ você não faz nada direito”, “a esposa de Fulano ....”. Frases como essas tendem a minar o amor próprio e a vaidade da mulher, já que o contrário, elogios e um bom diálogo são o principal atalho para a conquista da alma feminina. A sutileza das observações masculinas acerca das “falhas” das mulheres é tão funcional que chega a gerar um sentimento de culpa na gente, como se fôssemos culpadas por qualquer ato falho no relacionamento. Chegamos a achar que a culpa é nossa  por algo que não está dando certo na relação. O vilão torna-se herói. Toda essa conversa disseminada, ao longo do relacionamento, transforma-se numa poderosa arma de violência, daí para uma atitude agressiva é um passo, com sua autoestima minada, a mulher torna-se um alvo fácil para as agressões físicas. 
Mesmo depois de bater nas suas mulheres, os homens ainda conseguem virar o jogo. Artifícios como: pedir desculpas, implorar perdão, chorar, culpar as agruras da vida e o excesso de responsabilidades são algumas artimanhas usadas para obter o perdão, o que gera uma possível escapada das punições da justiça acompanhadas de um bônus de uma noite de amor. Tudo é perdoado até que esse ciclo criminoso recomece, culminando já tardiamente com a decisão de terminar o relacionamento, o que invariavelmente a leva à morte. Contrariado pela negação do poder, o que se manifesta na recusa de continuar sofrendo maus tratos, como última prova de quem deve obedecer e quem deve mandar na relação, o parceiro tão amado de antes resolve silenciar sua companheira para sempre; amparado pelas, leis raramente foge, pois sabe que existem muitas formas de livrar-se das punições legais.
É revoltante, não apenas como cidadã, mas como mulher, observar que nada é feito pra coibir tais atos e que muita gente ainda coloca a mulher agredida como culpada. Há sempre justificativas para o comportamento machista, no entanto não há como amenizar a culpa de uma pessoa que oprime sadicamente outra e que chega ao ponto de matar “por amor”. Sabemos que políticas públicas podem ajudar. Leis coma a Maria da Penha é uma garantia, mas não é o suficiente. Contudo é possível romper esse círculo vicioso não permitindo, ainda no início da relação, que um namorado tome decisões por nós. Se podemos ou não participar de um trabalho escolar porque ele tem ciúmes dos colegas da amada, se devemos ou não usar aquela ou essa roupa porque todo mundo vai ficar olhando, se estamos ou não prontas para a nossa primeira relação sexual, imposta com a desculpa da prova de amor. Pequenas atitudes são capazes de se tornar um muro suficientemente forte e alto para impedir o abuso de poder nas relações afetivas e como seguro receberemos respeito, dignidade e uma autoestima inabalável.