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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A CATADORA DE LIVROS

Conversando com uma amiga, me veio a vontade de falar sobre esse assunto.Ela dizia que na infância, catava lixo nas ruas da Barra para encontrar comida. Nenhuma pizza ficava perdida, dava uma lavadinha pra tirar as cinzas de cigarro, levava pra casa, dava uma esquentada e lá estava uma boa refeição do dia. É verdade, eu também era uma catadora de lixos, mas com uma diferença, era uma catadora de conhecimento, catava livros.
Desde pequena, meu pai me orientou sobre o valor que um livro tem.Cresci com essa ideia de que sem me tornar uma boa leitora, seria impossível me tornar uma mulher inteligente.Lembrem que no texto sobre A difícil perda da virgindade falei sobre o meu pai, que sempre quando eu tinha dúvidas sobre sexo, ele me mandava ler Henry Miller. Pois é, eu sou descendente de um catador de livros.Lembro bem do primeiro texto que meu pai trouxe da rua, do lixo, diga-se de passagem, era um almanaque que falava tudo sobre cachorros,tipo de raça, alimentação ideal, etc. Ele ficou tão empolgado com o livro, e nós também, que mandou encadernar e tudo. E como o Determinismo, de Taine é cruel, não fugi à regra, passei a catar todo tipo de livro que achava na rua.

Meu primeiro clássico foi um livro de Fernando Sabino, O Gato Sou Eu. O coitadinho(do livro) estava um fiasco, todo sujinho de mofo, mas o título me chamou à atenção.Na verdade, o chamariz foi uma foto velha e linda de uma prima minha,  mas quando vi o livro ali, embrenhado entre as fotos velhas, não resisti, peguei meio envergonhada, mas levei o livro pra casa. Foi uma decisão acertada, porque o livro era uma série de crônicas escritas por ninguém menos que Fernando Sabino, autor que me apaixonei e não parei mais de ler.

Mais tarde, fiz uma nova aquisição.Vindo da Faculdade de Letras, na UFBA, em Ondina, seguindo em direção à Orla, deparei-me com um montinho de livros e revistas em frente à porta de uma grande casa.Não tinha como ficar indiferente à obra o Pagador de Promessas, de Dias Gomes. Olhei para os lados e como não havia ninguém olhando, peguei-o, exatamente como um ladrão faria ao avistar algo de valor na rua.Como já era adulta, tive o cuidado de olhar para os lados, porque não sei como as pessoas reagiriam ao ver uma garota catando livros na rua e jogando na mochila. Foi ali, diante do livro de Dias Gomes, que percebi que jamais veria um lixo com indiferença.

É claro que à medida que comecei a trabalhar e ganhar o meu dinheirinho, comprei os meus próprios livros, inicialmente nos sebos(porque todo mundo sabe que estudante tá sempre duro), depois já com um emprego, fiquei sócia do Círculo do Livro, comprando um livro a cada dois meses e agora já trabalhadora, com um pouquinho mais de grana, tornei-me compradora regular do site da Siciliano. Contudo não pensem que me libertei desse vício não, continuei catando livros compulsivamente. Resgatei dos lixos  o  Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, Sagarana, de Guimarães Rosa  e muitos outros que não consigo lembrar.

Então eu fico pensando o seguinte, a que nível chegou o interesse dos brasileiros em relação aos seus livros. Pelo visto nenhum. É interessante notar que os livros encontrados, na sua maioria, não foram em bairros periféricos, tão associados ao descaso com a leitura, mas sim nos chamados bairros nobres, como Barra e Ondina.Eu não consigo desfazer-me dos livros que tenho, se há duplicidade, dou de presente. Outro dia, havia emprestado alguns à uma amiga e fiquei doidinha por saber que a mãe dela queria vendê-los.Fui correndo ao encontro dos meus amados e confesso meu receio em emprestá-la algum novamente, nunca se sabe quando o lado comercial da mãe dela voltará a atacar. Bom, quando você visualizar um lixinho por ai, dê uma olhadinha, quem sabe não só encontre um clássico perdido, mas também como diria Drummond, a chave perdida do conhecimento.             

domingo, 21 de novembro de 2010

POR QUE CARECA, BAIXINHO E NOVINHO NÃO PODE?

Pois é, lá vem eu com a história do padrão de novo.Constatei como somos preconceituosos e como os jovens estão no topo dessa lista.Idade ideal, altura, porte físico e um rosto atraente são atributos indispensáveis para o garoto que quer arranjar uma namorada.   
Em uma conversa, uma aluna compartilhou comigo que admirava um aluno da escola, mas o glamour do meu aluno bom partido foi quebrado por um fato inusitado: ele tinha apenas 14 anos.E então ela e mais outras meninas do grupo diziam " mas 14 anos, ah! 14 anos" e lá tinha ido a chance do menino, e olha que ela era só 1 ano a mais do que ele, mesmo assim o interesse havia ido pelo ralo.Então percebi como não há fim para o nosso preconceito.
É claro que eu também, quando era jovem(não faz tanto tempo assim rsrsrs), só queria namorar com os mais gatos.No primário, lembro bem que o meu sonho de consumo era um aluno chamado Enoque: lindo, moreno, alto e o mais inteligente da turma; o problema é que a fila era imensa e convenhamos que eu, além de não ter coragem de namorar naquela idade(devia ter uns 9 anos), não era nenhuma Rainha do Milho, o que reduzia em muito as minhas chances de fisgar o morenão. 
Já na adolescência, o visual melhorou muito, acho que não para a Rainha do Milho, mas já dava pra tentar um título de princesinha. Assumi minhas madeixas encaracoladas, passei a escolher meu guarda-roupa, achei meu estilo e passei a fazer um certo sucesso com os meninos, esse sucesso por sinal, demorou muito para ser percebido por mim, já que sempre fui considerada o Patinho Feio da casa.Morena, alta, desengonçada e de cabelos enroladinhos X uma irmã branca, com curvas devidamente definidas e longos cabelos na altura do quadril.Por tudo isso, perceber que eu estava no páreo levou longos anos, até ser surpreendida por um bilhetinho carinhoso do filho do meu chefe. Descoberto meu potencial sedutor, seguiram-se outros pretendentes, que me deixaram muito exigente com a turma masculina. Meu lema era " é feio, tô fora!só gosto de gatinho", fiquei metida mesmo!
Terminando a fase adolescente, deparei-me com o improvável, fiquei fissurada por um garoto bem mais novo(recuso terminantemente a dizer a idade dele) e com um "defeito" a mais: baixinho.Novinho e baixinho - atributos sine qua non para por fim a qualquer possibilidade de iniciar um romance.Mas não é que gamei no gatinho?Ninguém havia me dado um beijo como aquele e depois do primeiro beijo, viajava quase todo fim de semana pra conseguir o segundo, o terceiro, o quarto...Tava entusiasmada. Ele era carinhoso, fiel e estava apaixonado. 
Quando contei às meninas, a reação delas foi uma só: "ah Simone, novinho e ainda por cima baixinho?Dois pecados imperdoáveis.Eu não liguei na época, pois estava muito empolgada com o beijo do menino e ainda não ligo, porque depois dos 30 vem tanta coisa fora do padrão: gordinhos, carecas, malhadões e nada inteligentes, matutos, grosseirões e por aí vai.A lista é interminável!Não significa que peguei todos da lista, mas que se tivesse solteirona, não exitaria em usar o argumento de um chefe meu, "o que importa é o coração, Simone".Vai dizer isso a uma jovem que está no ápice da sua vida?Com tudo no lugar?Sem uma barriguinha incômoda?Chamando a atenção de todo mundo?
Eu vou dizer: '' O que importa é o coração, gente." E não precisa chegar aos trinta anos, solteirona pra se descobrir isso. Essa história de padrão é papo-furado, cafona mesmo!E daí se ele é gordinho?Você não precisa de atleta, só de um namorado; e daí se ele é careca, você não é uma cabeleireira procurando clientes, você quer uma companhia. E se for baixinho? Tudo bem, usa um banquinho, namora sentado.E se for novinho, o que que tem? O que importa é a cabeça, idade tá no cérebro e não no papel.Quantas pessoas são adultas e fazem burrada como adolescentes irresponsáveis.Os casamentos não são felizes porque o cara é um deus grego e sim porque ele sabe lidar com os problemas, é tolerante, trabalhador, inteligente e acima de tudo tem amor pela mulher que ele escolheu.
Tudo bem que eu não vou negar que um namorado gato faz bem pro ego, mas pode ter certeza que faz muito mal pro juízo.Quando você tem um namorado perfeito (entenda, ninguém é perfeito), você vai ter mais dor de cabeça ( nos dois sentidos).As meninas vão ficar azarando seu gato, te irritando, flertando com ele, pondo sua paciência à prova.Não é tão fácil quanto parece ter um namorado ideal, aliás, namorado ideal é aquele que te respeita, confia em você, te coloca pra frente, é fiel, é carinhoso, atencioso e verdadeiramente a fim de um compromisso.Então, da próxima vez que você se deparar com um careca, baixinho ou novinho, pergunte-se: Por que não?        

E ESSE MALDITO PADRÃO!

Olha, eu confesso que nunca me preocupei com essa história de ser gordinha.Na verdade, eu, até o nascimento da minha primeira filha, estava em forma.Tinha 60k e 1,70 de altura.Tava no padrão.Lá vem ela de novo, a maldita palavra "assusta mulheres" - padrão.Eu gostaria mesmo de saber quem foi o maldito que inventou isso.

Olha que ironia!Quando eu tinha 18 anos, até tomava uns remedinhos pra engordar um pouquinho, mas agora , a coisa tá feia, nem reza braba me tira essa gordurinha insistente.Eu queria mesmo é ter vivido no século XVI, quando o padrão ideal era o das gordinhas, eu ia fazer um tremendo sucesso, eu só não, muita gente iria atrás dessa fama.E como um pouco de informação nunca faz mal a ninguém, fique sabendo que as mulheres gordas evidenciavam riqueza, boa alimentação e , é claro, muito açúcar, produto raro na época; já a magreza representava feiúra, fome e empobrecimento, portanto as gordinhas estavam em alta no mercado.Bons tempos!Então, lá para o século XIX, tudo mudou, inclusive o famoso padrão.As mulheres magras passaram a ser valorizadas por conta das mocinhas dos romances românticos e aí a coisa foi tomando corpo, melhor dizendo, perdendo.Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, a ideia de mãe e geradora cai em detrimento do espaço profissional, portanto uma mulher de seios fartos e ancas largas não combinavam em nada com a mulher ágil e masculina.

Eu agora sou uma verdadeira mulher, eu me sinto na plenitude, por que, afinal de contas, o que mais destacaria uma alma feminina do que discutir relação, chorar na TPM e fazer regimes absurdos? Toda mulher que se preza tem uma receitinha para emagrecer.A última que me mandaram fazer foi beber suco puro de limão, começando no 1º dia com 1 e ir aumentando gradativamente até o 10º dia, ou seja no 2º dia 2, no 3º dia 3 e por aí vai até chegar ao 10º, uma vez cumprido esse martírio, você agora vai decrescendo: no 9º dia 9 limões, no 8º 8, até chegar ao marco 0. Se você não tiver antes uma gastrite ou  irritações do estômago, você emagrece.Que loucura, né?Mas confesse que não ficou tentada a fazê-la?Então você está quase alcançando o verdadeiro status feminino.A minha loucura ainda foi maior, paguei um curso para emagrecer da internet dividido em três meses, na primeira semana foi um sucesso, emagreci 2k, em compensação na terceira semana já tinha engordado o dobro e agora espero ansiosa o fim dessa dívida(que Robson-meu querido marido- não saiba).

É claro que a gente tem que ficar atenta ao peso, gordura pode ser sinônimo de doença, por isso é importante se cuidar, mas sem neuroses.A velha receita da atividade física com dieta é a melhor opção para se emagrecer com saúde.Ficar tomando esses remédios loucos, vomitando depois das refeições, privar-se de comer o que gosta não é uma boa, já que emagrecer, como tudo na vida, tem que ser feito com alegria, com prazer.Ninguém deve ficar se martirizando, porque não é uma Gisele ou coisa parecida.Só Deus sabe quantos tratamentos de beleza essas mulheres fizeram e quanto o fotoshop foi usado, para aparecer aquele resultado fenomenal.Gordinhos amem-se, porque se você não se amar primeiro, ninguém vai te dar valor.Se todo mundo fosse igual, o mundo seria péssimo e mais uma coisa muito importante - homem adora mulher gordinha sim e se disserem o contrário, não acredite, é intriga da oposição, ah! e mais uma coisa, já ia esquecendo, o mundo gira, isso significa que esse padrão vai mudar e não vai demorar.   

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

SEXO NA ADOLESCÊNCIA - PARTE 1

Depois de alguns pedidos, resolvi falar um pouco de sexualidade na adolescência. É claro que não sou uma analista pra falar sobre esse assunto e muito menos estou aqui pra dar lição de moral pra ninguém. Vim mesmo pra conversar numa boa, sem levantar as bandeiras que sempre vemos quando se fala sobre sexualidade, para os pais, os filhos ESTÃO PROIBIDOS; para os filhos, tudo DEVE SER LIBERADO.

Após alguns debates na escola que dou aula, fiquei pensando se estou muito fora de moda ou meus alunos, quase filhos, estão adiantados demais. Cada vez que sento com eles e começamos a fofocar, percebo que não há vergonha nenhuma em falar da sua sexualidade, bem diferente da minha época, quando minha mãe sempre respondia que ainda não era a hora de ficar sabendo, ao passo que meu pai me mandava ler Henry Miller, dizendo que tudo que eu quisesse saber esse autor me falaria. Eu até queria ler o tal livro, mas quando via as mais de 600 páginas, meu interesse murchava rapidinho.Eu queria mesmo eram respostas práticas, mas ninguém lá em casa tava disposto a se colocar nessa posição de jogo da verdade.E eu pensava, o assunto deve ser brabo mesmo, tanto esconderijo...e mais curiosa eu ficava.  

Voltando aos alunos, notei que eles além de opinarem sobre o assunto, ainda posicionavam-se claramente sobre temas-tabus como homossexualismo, aborto e adoção gay. A maioria (pra alegria dos pais) pensava de uma maneira tradicional, exceto quando se falava sobre sexo antes do casamento, aí era unanimidade, todos favoráveis.Às vezes me surpreendia (confesso que me assustava) com um ou outro CDF, diga-se de passagem, quando discursava sobre o direito da liberdade sexual, inclusive quando se discutia a polêmica bissexualidade, não só achavam normal, como levantavam a bandeira ardorosamente, e eu, na minha santa inocência, achando que aborto é que era polêmica!

Daí eu pensei, será que os pais sabem que seu bebê pensa dessa maneira? Será que em algum momento o pai ou mãe perguntou diretamente ao filho o que ele acha sobre casamento entre gays ou adoção gay ou ainda sobre aborto?Ou acham que seus filhos são pequeninos demais pra falar sobre isso?Alguns pais chegam a me dizer que seus filhos nem pensam nisso, filhos com 12,14 anos. É cedo demais? Bom, na última festa adolescente que fui, eu vi meninas de 11 e 12 anos aos beijos, trocando de ficante a cada balada do DJ. Por outro lado, na última escola que lecionei, a diretora apreendeu um texto meu, por se tratar de sexualidade entre jovens. Essa é a saída? Fingir que nossos filhos não pensam, não querem, não fazem sexo?

A mídia bombardeia os jovens com todo tipo de informação que, em muitas delas, fogem da realidade, são ilusórias, enganosas, escapistas.Não seria melhor a gente tentar conhecer melhor nossos filhos, mas não é conhecer já nos posicionando não, porque ai a gente assusta o gado(como diria meu pai), é estando genuinamente interessado no que eles pensam, porque aí sim, nós vamos ter respostas sinceras. Eu noto, na escola, que eles querem falar sobre isso, eles gostam de falar sobre isso e tem muitas dúvidas, não é melhor a gente responder do que deixar um desinformado qualquer fazer esse papel?Muitos pais ficam preocupados demais em atender as necessidades financeiras do seu filho que esquecem do lazer, do bate-papo na hora do almoço, da ida ao shopping com eles. Será que no caminho não rola um papinho?Será o silêncio a melhor forma de lidar com isso?Será que os nossos medos e a nossa própria incompetência tá atrapalhando? 

Bem, eu tenho mais perguntas do que respostas, já que as respostas estão na cabeça de cada pai e mãe. Só você deve (ou deveria) saber o que seu filho realmente acha do mundo que ele vive. É claro que eles vão nos assustar um pouquinho com suas respostas e às vezes não é realmente o que gostaríamos de ouvir, mas não seria mais proveitoso ouvir (mesmo que não seja o que esperamos) do que fingir que nosso filho concorda com nossas opiniões, opiniões essas que talvez eles achem ultrapassadas? Eu acho que a verdade, mesmo que doa e assuste, é sempre a melhor opção.