Visualizações

sábado, 1 de janeiro de 2011

FIDELIDADE ANIMAL E O ANO NOVO

Com essa onda de bafômetro, as tribos tem se reunido nos espaços próximos de casa pra tomar sua cervejinha e rever os amigos. Aqui, em Cajazeiras, já virou uma febre o churrasquinho dos fins-de-semana.A minha tribo, em especial, não passa um feriado em branco, preferem bebericar em casa, ou na famosa garagem do Ecimar.Todo mundo com medo de ser barrado pela Transalvador (que diga-se de passagem, nunca resolve os problemas que deveria)! Aproveitam o final de tarde pra beber relaxados, sem o perigo da famosa multinha e do temido aparelho que mede o bafo dos cachaceiros adoráveis de plantão. Eu sou apenas uma acompanhante, enquanto eles bebem todas; eu como o churrasquinho e dou risada das piadas dos mais animadinhos. 
Dia desses, aconteceu algo inusitado.Sempre que fazemos um churrasquinho, aparecem os cachorros abandonados da vizinhança.Um deles, chamado Boca, é um convidado fiel; é só sentir o cheirinho da carne que ele aparece, e invariavelmente ainda traz consigo alguns companheiros.Como temos uma amiga que é parceira numa ONG de proteção à animais, ninguém se habilita a escurraçá-los. Além dos parceiros fixos como Lua e Sol (os cachorros da vizinha-ong), contamos com uma cachorrinha cega e um gatinho de um dos nossos amigos. De repente, Boca apareceu. Eu não sei qual é o nível de amizade entre eles, mas quando Bidu avistou Boca começou a enfrentá-lo e a chamá-lo pra briga. O fiel representante dos cachorros abandonados e ponguista de churrasquinho nem se abalou de tão enfeitiçado que estava por uma calabresa coradinha, recém tirada do espeto. Tentou se fazer indiferente às ameaças de Bidu até não poder mais. Quando não foi mais possível ignorar as investidas de Bidu, ele revidou às agressões caninas com uma bela perfurada no rosto da cachorrinha cega, que brigava pelo instinto, e não pela localização precisa do agressor. No meio do tumulto, ficava o pai adotivo da cadela, com a ajuda de uma cadeira, tentando separar os enfurecidos cãozinhos. De repente, no meio da confusão, eis que o gatinho se atira no meio da briga, para defender sua companheira de hospedagem. O nosso querido Boca, já consciente da sua supremacia sobre a cachorra é pego de surpresa pelo gato que parte para o ataque furioso, então percebendo que não conseguiria vencer o confronto, sai correndo, deixando pra trás uma plateia perplexa diante da valentia de um gatinho que tentava salvar sua irmã adotiva da fúria de um cachorro faminto.

Conclusão, como o mundo é contraditório. Em meio a um mundo onde as pessoas não se respeitam, pais arremessam filhos barranco abaixo, filhos matam pais por causa de uma herança e irmãos brigam entre si por causa da  famigerada droga, os animais nos dão uma lição de fidelidade incomum, já que cães e gatos não costumam andar em harmonia, dessa vez na figura de um gatinho que resolve defender seu irmão, por sinal um cachorro, das investidas de um cão bom de briga. Se até os bichos conseguem defender seus parentes adotivos, porque não conseguimos viver em paz? Bom, e já que estamos iniciando o ano, não deu pra deixar de lado a reflexão tão comum nas crônicas de final de ano e junto com ela a velha discussão retorna, por que não praticarmos mais o bem, não de maneira ocasional e hipócrita, apenas pela chegada de um ano novo, mas sempre que nos for acionado o sinal da paciência, tolerância e empatia? A gente já pegou o hábito de ver com naturalidade as notícias nos jornais sobre violência. Se não nos abismamos com os acontecidos, adotamos uma atitude de fuga, nem queremos saber, até aí é compreensível, diante de tanta barbárie a que estamos habituados, Contudo, o que não dá é agirmos de maneira similar quando a proporção da violência é menor, do tipo quando avançamos um sinal de trânsito, fingimos que dormimos quando um idoso entra no ônibus e pleiteia seu lugar, ou quando jogamos lixo pela janela dos veículos, subornamos o guarda de trânsito ou entramos na fila de idosos descaradamente com aquela cara de desentendidos! É nesse momento que devemos colocar em prática todo nosso discurso de revoltados com o sistema.O sistema somos nós, portanto a mudança tem que ser imediata e tem que acontecer a partir de pequenos gestos como esses. Essa é a minha mensagem de ano novo.Agir mais e falar menos!